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Museu de Congonhas
MUSEU DE CONGONHAS

O museu está localizado no declive natural do terreno do Santuário e, embora valorize o contraste com suas linhas contemporâneas, não tira o protagonismo de todo o conjunto secular. Ao contrário: foi pensado para ‘conversar’ com o lugar onde foi construído, como o encontro entre passado e presente, que garante a preservação da história para o futuro.

 

O diálogo com o local onde um projeto será inserido e a quem está destinado é uma das principais características dos projetos de Gustavo Penna. Especificamente no caso do museu, a concepção foi além. Por se tratar de um bem tombado pelo Patrimônio e de vocação ritualística, a implantação de um prédio contemporâneo rodeado por edificações do século 18 deveria, mais do que nunca, respeitar sua topografia – que remete ao princípio barroco da “busca dos céus”, por estar em um declive – e reverenciar o simbolismo do entorno.

 

Apesar de contemporânea, a arquitetura do museu se harmoniza com a linguagem que já está lá há séculos, através de algumas características do projeto: uma implantação neutra, sem competição volumétrica com o conjunto arquitetônico principal; o ‘ritmo’ da construção, com suas aberturas, proporções, alinhamentos e altimetrias em escala similar ao do resto do conjunto; a grande base da edificação em pedra, muito peculiar da época da construção do Santuário, com o uso de pedras da região, que não se sintam ‘estrangeiras’ no contexto; a parte superior mais leve, fluida, as paredes caiadas e pintadas com tinta mineral – a mesma usada na restauração das capelas dos Passos de Cristo e da basílica, aprovada pelo Iphan; a longa e suave curvatura do prédio, que “se derrama na encosta, em um formato côncavo que ecoa a forma oval do local de romaria, logo abaixo, como se as duas se encaixassem”, segundo Gustavo Penna.

 

Ocupando 3.500 m² de área construída, o museu é dividido em três andares: no nível principal estão a recepção e a sala de exposição permanente, composta por quatro espaços: a sala introdutória, o corredor expositivo, o salão de exposição e ainda uma loja e um café. No nível inferior há um hall e o acesso à área de exposição permanente e temporária, à área de biblioteca e documentação (que consolidará o Museu como um centro de referencia do barroco brasileiro) e ao setor administrativo, além de um anfiteatro a céu aberto. Finalmente, no nível subsolo está o Centro de Referência do Barroco, um ateliê para o desenvolvimento de trabalhos com pedra.

 

“Outro fator de extrema importância é estar lado a lado com os 12 Profetas, a obra-prima de Aleijadinho, o maior artista das Américas. E das seis capelas que descrevem a Paixão de Cristo, uma coisa maravilhosa. Nosso projeto teve de ser atemporal, embora seja testemunha de seu tempo e tenha orgulho de afirmar poesia, respeito, equilíbrio. A arquitetura do Museu de Congonhas se sente segura para usar o caminho da gentileza, da reverência, da consciência e do respeito pelo Santuário de Bom Jesus de Matosinhos”, descreve Gustavo Penna.

 

“O museu quer enaltecer o eixo simbólico que reúne os planos do sagrado, da memória e do cotidiano local. Buscamos estabelecer um vínculo, uma associação com o território simbólico, para preservar a hierarquia existente, a consistência e a solidez do acervo histórico e artístico, para reafirmar e assegurar esse patrimônio”, completa a arquiteta Laura Penna, coordenadora do projeto.

 

O interior do museu tem espaços fluidos. “Limpos, alvos, claros, nada fragmentado. É o próprio barroco traduzido pela contemporaneidade, onde não existe ruptura mas a curva, o caminho para o céu”, explica o arquiteto. Nas áreas do museu, as soluções arquitetônicas buscaram oferecer o maior número de recursos de instalações e luminotécnica, para flexibilizar e enriquecer as possibilidades de criação dos cenários museográficos. Através de shafts em dry-wall nas paredes da exposição permanente e dos recursos e facilidades nos pisos das áreas do entorno permite-se a criação de qualquer arranjo museográfico.

 

O ACERVO 

 

Se a arquitetura do Museu de Congonhas mimetiza o ambiente do entorno, integrando-se ao patrimônio existente, por dentro o acervo é a representação da cidade e do que a formou: fé, devoção, a obra e a figura do Aleijadinho e a própria Congonhas, com suas características étnicas, históricas e culturais. “O museu mostra a dimensão da cidade como obra de arte, lugar do sagrado, representação do patrimônio e como demonstração de fé. Através da exposição dos ex-votos e de documentação, filmes, publicações, além do estudo da reprodução dos 12 profetas, para sua preservação como marco da arte barroca”, explica Sérgio Rodrigo Reis, presidente da Fundação Municipal de Cultura Lazer e Turismo (Fumcult), que vai administrar o museu. “Congonhas inaugura no país o conceito de Museu de Sítio, ou seja, feito para potencializar a compreensão do lugar onde está inserido”, completa.

 

A exposição permanente é composta por 342 ex-votos que vão do século 18 ao século 20, da coleção particular de Márcia de Moura Castro e adquirida pelo Iphan em 2011. A partir das peças pode-se ter não apenas a compreensão do processo de devoção e fé, mas da riqueza cultural de sua simbologia. E ainda traz uma relíquia entre a representação de ex-votos em tábuas votivas: uma pintura, feita em madeira no século 19 por Euclásio Ventura, e que é a única imagem existente de Aleijadinho. Ela havia sumido de Congonhas em 1910, posteriormente comprada por um colecionador e depois devolvida ao governo de Minas Gerais. Há um ano o Museu negociava – e conseguiu – a volta da obra à Congonhas.

 

Outro acervo importante é a consolidação de uma biblioteca de referência nos temas fé, devoção, na obra de Aleijadinho e na história e cultura de Congonhas. No total, são cerca de 4 mil livros e 3 mil recortes de jornal, adquiridos de bibliotecas particulares, de uma seleção das bibliotecas do município e da Unesco e do Iphan. Mesmo na loja de suvenires a cultura de Congonhas estará presente: desde que assumiu a Fumcult, Sérgio Reis envolveu a comunidade no processo de implantação, através do “resgate dos ofícios da fé”. Desta forma, artesãos da cidade que fazem as tradicionais cruzes da Santa Cruz (feitas em papel crepom e penduradas do lado de fora das casas), os terços de conta de lágrima, os tapetes de sal, serragem e pedra sabão e a decoração dos andores de procissão terão suas peças à venda como suvenir para os visitantes.

 

A inauguração do Museu de Congonhas também dará visibilidade a ações que já foram implantadas no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, como a iluminação cênica dos 12 Profetas e das capelas que reproduzem a Paixão de Cristo; o primeiro aplicativo do país de visita virtual a uma cidade (e dentro dele ao Santuário, pelo site www.eravirtual.org); o aplicativo de um áudio-guia, que o visitante pode baixar no celular e ter toda informação necessária enquanto visita o Santuário; a realização de shows acústicos no anfiteatro do Museu (com capacidade para 100 pessoas), como forma de resgate da música colonial mineira; e o lançamento de três publicações (uma sobre o acervo do Museu e duas sobre Congonhas).

 

Outra ação, esta mais delicada, diz respeito à reprodução dos 12 Profetas de Aleijadinho, que estão pouco a pouco se deteriorando por conta das intempéries do ar mineiro. O Museu lidera uma pesquisa de reprodução dos Profetas, através de dois processos: o primeiro (e que já replicou dois deles, em uma resina de pó de pedra sabão) é de alta tecnologia e consiste no escaneamento das estátuas e posterior reprodução. O segundo é um estudo em cima de moldes das obras feitas na década de 1960 (à semelhança do que fazia Rodin), para ver se é possível sua reprodução.

Arquitetura

Gustavo Penna, Laura Penna, Norberto Bambozzi, Alice Leite Flores, Ana Isabel de Sá, Eduardo Magalhães, Fernanda Tolentino, Gabriel de Souza, Henrique Neves, Ivan Rimsa, Julia Lins, Juliana Couri, Laura Caram, Letícia Carneiro, Naiara Costa, Natalia Ponciano, Oded Stahl, Patrícia Gonçalves, Paula Salum, Raquel Resende

Gestão e Planejamento

Risia Botrel, Isabela Tolentino e Taimara Araújo

Local

Congonhas – Minas Gerais – Brasil

 

Dados Técnicos
Ano do projeto: 2005

Ano de conclusão da obra: 2015
Área construída: 3.625m²


Fotos

Jomar Bragança

Leonardo Finotti

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